O câncer de ovário, juntamente com o do corpo uterino, correspondem a duas das mais graves malignidades femininas. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional do Câncer – INCA –, são esperados para o triênio 2020-2022 no Brasil, cerca de 6.650 casos novos de câncer de ovário. Este valor corresponde a um risco estimado de 6,18 casos a cada 100 mil mulheres brasileiras, sendo a 9ª causa de câncer nos Estados da Região Sul. No mundo é a 8ª causa de incidência por câncer feminino.1
As neoplasias malignas do ovário têm uma complexidade adicional, em termos de histopatologia, pois podem se formar a partir de células epiteliais (tecido de revestimento), por células germinativas (que produzem os óvulos propriamente ditos) e por células estromais (tecido que produzem os hormônios femininos).
Além disso, alguns tumores são consideramos ¨borderline¨, ou seja, apresentam proliferação celular atípica e, por esta razão, são considerados de baixo potencial de malignidade (crescendo de maneira lenta e não invadindo o estroma), o que ocorre em cerca de 15% dos tumores ovarianos. Estes tumores são mais comuns em mulheres entre 20 e 40 anos e costumam ser diagnosticados de maneira precoce.
O tratamento é sempre cirúrgico e existe chance, mesmo que muito pequena, de recidiva e disseminação para outros locais do abdômen.2
Os principais fatores de risco para câncer de ovário são a obesidade, idade acima dos 50 anos e mutações dos genes BRCA1 ou BRCA2 (relacionadas também com síndromes do câncer de mama hereditário). Outros fatores são o tabagismo, menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia.
O tratamento envolve quimioterapia, radioterapia e cirurgia, que pode ser feita logo de início ou planejada após alguns ciclos de quimioterapia, ou mesmo após o seu término. É muito comum, para o câncer de ovário, realizar uma cirurgia laparoscópica de estadiamento inicial, a fim de avaliar a presença de disseminação peritoneal, quando há suspeita pela tomografia. Também, é muito comum a paciente precisar realizar mais de uma cirurgia, sendo estas programadas, quando há suspeita de recidiva tumoral (chamadas cirurgias de intervalo ou ¨second look¨).
Estas neoplasias costumam responder bem ao tratamento quimioterápico baseado em medicamentos denominados platinas (cisplatina, carboplatina), porém podem se tornar resistentes a elas em algum momento do tratamento. Atualmente, há uma expectativa de resultados promissores com inibidores da PARP (poli ADP-ribose polimerase: olaparibe, rucaparibe e niraparibe) e, ainda, estão em investigação inibidores tirosina-quinase (imatinibe, sunitinibe) e agentes anti-angiogênicos (bevacizumabe).
Para os casos de disseminação peritoneal, outra novidade dos últimos anos foi uma publicação no renomado periódico New England Journal of Medicine, em Janeiro de 2018. Os autores encontraram benefício na utilização de quimioterapia peritoneal hipertérmica (HIPEC), associada a citorredução cirúrgica de intervalo, para pacientes com carcinoma epitelial de ovário em estágio III. Os resultados mostraram maior tempo de sobrevida livre de recidiva e de sobrevida global, em comparação com pacientes que receberam apenas cirurgia isoladamente, sem aumento nas taxas de efeitos colaterais ao tratamento.3
Referências:
1 - Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Rio de Janeiro: INCA, 2019.
2 - https://www.cancerresearchuk.org/about-cancer/ovarian-cancer/types/borderline (acesso em 21 de junho de 2020)
3 - Hyperthermic Intraperitoneal Chemotherapy in Ovarian Cancer. WJ van Driel, et al. N Engl J Med 2018; 378:230-40.
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